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RELAÇÕES TÓXICAS

RELAÇÕES TÓXICAS

A sociedade é uma paisagem em continua construção, bem distante do mundo ideal e próximo da historieta que,  “consertando o homem, consertar-se-ia o mundo” e, mesmo assim, continuar-se-ia a viver da permanente utopia, já que o ser humano é uma construção imperfeita (ou que assim se torna) podendo melhorar ou piorar, a depender de um conjunto de variáveis, entre elas, do meio social, dos valores, da economia, da cultura, do estágio do processo civilizatório, dentre  outras.

Neste cenário, marcado pela dinâmica do devir, as relações sociais gravitam-se, entre os homens num eterno processo de instabilidades, a subsistir de conflitos, reclamações e contrariedades, em dadas circunstâncias, a castrar-se o âmago do próximo, por sentimento ou afinidades. Todavia, este é o cenário real das relações contratadas permanentemente no tecido social, a começar pela relação pais/filhos; entre os casais, nas relações comunitárias, de trabalho, de estudos e pesquisas para não falar de extremos como futebol, religião e política, bifurcados em legiões de técnicos irretocáveis, de semi deuses e de absolutos “imperadores do sol” pelo mundo a fora. Em função da própria imperfeição humana, este cenário é uma realidade dada, cuja mutação depende sempre do devir. Porém, as relações comuns (ou mais comuns) podem ser melhoradas, a partir das escolhas e da fuga da vitimização, normalmente, de costume.

Partindo da premissa de que “ninguém muda ninguém”, no máximo, podemos motivá-lo, as pessoas se relacionam umas com as outras, alicerçadas em suas crenças e, não raras vezes, em suas necessidades e, por mais que as seduzimos, suas relações para com os outros, são quase sempre, escolhas pessoais, que apesar de muitas dessas se tornarem insalubres, os polos (ou apenas um deles) acumulam resistências na zona de conforto ou ainda se acentuam em fragilidades, como a cultura do medo da solidão, da dependência financeira, entre outros com clara escolha pelo sofrimento,  privação da liberdade e do bem estar. O resultado dessas relações pode ser a infelicidade, embora seus atores defendem o contrário através de conceitos insofismáveis, preferindo a aparência à essência.

Neste particular, observando as alfombras do tecido social, qualquer um, mesmo o mais desatento dos homens vai perceber relações imperfeitas e as mais diversas como o amor por dependência; sustentada pelo medo, nas suas várias formas;  na concorrência desleal entre ambos; hierarquizada pelo domínio de um sobre o outro; na exibição do outro como troféu para satisfação do “eu narcisístico” ou ainda em relações alicerçadas em desvalores, como a inveja e o ciúme doentio. Estas, sem diminuir outras mais “invisíveis”, são poeiras em constantes erupções a se figurarem em permanentes redemoinhos, como se fossem características imanentes de determinadas pessoas que, por si, não se dão conta da patologia social e do grau da enfermidade a ser tratada, às vezes, defendendo seu estado doentio, como absoluto estado de normalidade num processo de absoluta naturalização patológica, inconsciente ou não.

As pessoas contraem relações desejosas de alcançar seus sonhos e a satisfação pessoal, sem imaginar que no decorrer das interações sociais, o produto de suas escolhas viesse a se constituir em zonas perigosas e insalubres e, quando as deparam “com o eminente precipício” que as esperam, não dá para falar em “escolhas” como se fosse fácil, primeiro porque não há como voltar atrás, segundo, que também não é fácil escolher “sob pressão”, carregando o peso da frustração e sem alternativas naturais e espontâneas, com marcas letais e profundas na ruptura do sonho tão desejado, agora materializado em dores, culpas e ressentimentos, daí que, pra muitos, convêm tolerar e suportar do que aceitar a cisão estanque da relação, correndo o risco de não fazer aqui a leitura ideal deste fenômeno, mas tão somente a leitura possível. O que arrisco afirmar não é que as pessoas se radicalizem diante do cenário revelado, pois se fosse tão fácil, ninguém aceitaria a infelicidade e a “receita do sofrimento” como estilos de vida, mas que elas admitam aceitar que as escolhas não se revelaram no resultado que desejaram, avaliando a relação sem se culpar a si e o outro e, convictas deste estágio, possam administrar estratégias de rupturas, habilitando-se a outras relações que atendam seus projetos de vida, sem polarizar a relação passada em infortúnios ou extremos, dualizados pelo amor e o ódio, mas apenas num projeto que não deu certo, migrando-se para o estágio da consciência e do empoderamento.

Em qualquer situação vivida nas relações imperfeitas protagonizadas pelos homens é preciso fazer uso de um saber, mas principalmente “um saber-fazer” capaz de superar os excessos, a exploração, a expropriação, a indiferença de um sobre o outro à razão do equilíbrio e do meio termo como condição à tomada de decisão para descontinuidade da relação. É preciso saber-fazer, sobretudo porque não se tem como apagar os momentos felizes e tão bons de uma boa relação que ficou tão ruim, agarrando-se apenas na ponta que ficou insustentável. Não é possível deletar apenas a parte ruim da relação; é possível escolher não continuar com a parte que ficou tão ruim.

É provável que as pessoas que assim o fizerem passarão gradualmente a serem alimentadas pelo próprio brilho que as mantêm cativas do seu amor próprio e motivadas a viverem para serem felizes e a fazerem felizes aqueles que sonharem o mesmo sonho, alimentando-se um na fortaleza do outro, sem hierarquizar papéis, apenas atores e construtores de uma relação saudável. Isto não fará deles seres perfeitos, mas seres humanos melhores. Nunca é demais lembrar que a tolerância e o amor são qualidades apenas dos vencedores e fortes, que os tornam melhores e faz melhor o mundo que os cercam, a cada novo dia.


Gaudêncio Filho Rosa de Amorim: Poeta, escritor e compositor filiado a União Poxorense de Escritores – UPE e ao Instituto Histórico e Geográfico de Poxoréu – MT, autor do livro Prefeitos de Poxoréu, Biografia (2016) entre outros

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