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Do que é mesmo que estão falando?

Do que é mesmo que estão falando?

Já ouvi muita gente afirmar “que quanto mais se conhece os homens, mais se admira os cães”, como se desejasse separar a si de quem se fala ou como se não a incluísse no gênero humano, guardadas as proporções para o fenômeno; Talvez quisesse apenas emitir um ligeiro julgamento sobre a cultura social de um povo ou de uma determinada classe social, o que, em tese, não deixaria de julgar a si mesma e, é claro, que aqui ainda não estou me reportando a clássica afirmação de que, “quem desdenha, quer comprar”., cônscio de que esta seja a exceção e não a regra, em geral.

Analisando frenético cenário social, em tempos de pandemia, é visível que para muitos que estão (ou não) confinados, a COVID-19 é de longe o maior desafio ou o epicentro de suas preocupações: basta olhar os jornais, a imprensa televisiva, os grupos de watap’s, a bravata dos políticos e a comoção social que viraliza quase tudo em politica sobre qualquer posicionamento de autoridades políticas para enxergar a verdadeira epidemia social.

A COVID – 19 está cada vez mais agressiva e prenuncia dizimar milhares de vida, porém, os holofotes continuam imóveis na queda de braço dos barões do poder ou no poder, propriamente. Incompreensível nos é quando dobramos uma esquina e conversamos com 10 pessoas e, entre 6 ou 7 delas, afirmarem não gostar de política e, é uma pena não terem lido Bertolt Brecht (1898-1956); Mais ainda: fazem ávidas criticas a estes barões e continuam a votar em um deles, reféns do mesmo e tradicional jogo de poder, sendo a doença em si, o assunto quase secundário na primazia para com as pretensões do poder. Talvez por isso, Maquiavel (In: O Principe,1513) tenha sido enfático: “para entender de política, precisamos entender de gente”. Em que pese respeitar as variações culturais e o contexto de época, a máxima maquiavélica ainda é uma sentença viva em nossos tempos.

Parece até que os verdadeiros preocupados com a pandemia são os profissionais de saúde, cuja saúde, a maioria indiferente deveria realmente se preocupar, haja vista que se eles tombarem no front desta batalha, além de termos “tapa-olhos”, seríamos guiados por cegos para o mesmo precipício e reconhecida a guerra de todos contra todos, quer dizer, a ruina de todos.

Tenho falado muito de uma historieta sobre dois monges em que um deles atravessa uma mulher em seus braços sobre um rio para não molhar suas vestes e o outro caminha ao seu lado o dia todo até a noite para desentalar da garganta a irretocável advertência: _ Irmão, o senhor sabe que nós, monges, homens santos, não podemos tocar em mulheres (quanta presunção!!). Por que atravessastes aquela mulher naquele rio? E ouviu do benfeitor, com um sereno sorriso no rosto: _ Irmão, eu atravessei-a e a deixei lá do outro lado do rio. Não percebe que é tu que a carregas ate agora? Então me vem à mente um dito popular sob medida: “Quando Pedro me vem falar de João, então eu sei mais de Pedro do que João”, por conseguinte, quem diz não gostar de política….; às vezes, quem, às turras, vive a falar dos outros, termina por revelar suas próprias essências. Sabe aquela impressão que, às vezes temos, “do sujo falando do mal lavado” ou de alguém criticar “a sujeira dos lençóis da vizinha sem se dar conta da imundície de suas próprias vidraças”, bem assim!. Esta reflexão, portanto, possui dois vieses: um que se atém sobre a opacidade do ser na seara daquilo que Tomas Hobbes (In: O Leviatã, 1651) já houve constatado e outro, o selvagem jogo político, mesmo diante da eminência de morte no lascivo processo de dominadores/dominados e na cruel revelação de que “quem pode mais, chora menos” na cômoda alcateia dos donos do poder e, por isso mesmo, também, donos dos respiradores, ainda que tenham que trazê-los da China.

Guardadas as exceções, não é novidade que o oportunismo é a politica dos políticos, apesar de ainda nos surpreendermos e manter acesa a esperança de que, um dia, o ser humano valha mais do que o seu voto nas urnas, inobstante a sociedade dos espetáculos políticos e, no caso da pandemia, o secundarismo da ciência, decretado pelos falastrões de plantão.

A avidez de muitos para interpretar fatos do cotidiano acaba por revelar soldados em batalha na defesa de seus generais. Poucos discutem (no sentido de refletir) os erros ou acertos do governo no combate a Pandemia; atêm-se aos enlatados (da mídia e redes sociais) decorrentes, por exemplo, se está correto defender a economia com o relaxamento do isolamento social, como quer o Presidente Bolsonaro ou se procede a proposta da ciência que vê no isolamento, a forma mais eficiente de combate ao Corona Virus, inclusive como estratégia para não convulsionar o sistema de saúde e ter, como consequência, a verticalização de óbitos em séries ou ainda se o ministro Mandeta fora demitido por um exibicionismo exacerbado e de foro íntimo para além das armas que, efetivamente, combatesse a epidemia, com entrevistas diárias reiterando o isolamento social, sob a recomendação monocrática da OMS ou, por outro lado, se o presidente Bolsonaro foi cirúrgico ao impor limites às ações do ministro que, em razão delas se tornava um populista, com avaliações da opinião pública superiores a dele e, de agir em desacordo com as recomendações do “chefe”, que via no relaxamento social uma forma de salvar a economia, em detrimento do avanços dos casos da doença e do crescimento das mortes diárias e, na contramão das orientações da OMS. Ora, da mesma que forma que a humanidade se digladia com um inimigo invisível, muitas sociedades, entre elas a brasileira, tem aceitado os desafios para defender os barões do poder, sob o simulacro da COVID – 19. Quando dizem ser a favor do presidente, nas suas intransigências ou preciosismos do poder, na maioria das vezes, na verdade, são contra. Entretanto, tal admissibilidade, enfraquece o ideário de líder que não se deseja ou simplesmente não querem vê-lo retornar, tipo saudosismo lulista X validação do poder de plantão de natureza bolsonarista; Quase ninguém, em sã consciência e sem a ausente opacidade do ser contesta as políticas eficientes e eficazes do Ministro da saúde (Mandeta), mas admiti-las como tais significaria o enfraquecimento do chefe perante a opinião popular e se não há outra forma de melhorar sua imagem, há de se recorrer ao implacável tratamento de “manda quem pode e obedece quem tem juiz” (decepa lhe a cabeça) e assim dualiza as massas em posições distintas para se ocupar do “temporário boi de piranha” enquanto a carruagem passa planejando o próximo espetáculo, como por exemplo não ignorar o culto do AI-5 por manifestantes, em tempo de avançada democracia, sob clausula pétrea da Constituição. Quando mais “emburrecida” a massa, mais ela guerreia entre si e a forma mais eficiente de primitivismo e retrocesso é retirar dela a capacidade de pensar ou de pensar antes de agir. Para os barões do poder ela precisa apenas reagir para manter as labaredas do espetáculo.

È provável que, a juízo perfeito e equilibrado, fosse razoável debater estratégias para tratar um grande dilema de sociedade sem protagonismo temporário dos barões do poder, vez que na guerra da COVID – 19, os holofotes não estão para os políticos, mas para os estudiosos da ciência e os especialistas da economia e, neste diapasão, fosse oportuno encontrar alternativas para tolher o avanço da doença e os meios seguros para dinamizar os meios de produção sem que se precise acentuar um ou outro, conforme quer a vaidade deste ou daquele líder ou governo. Bastavam liderar o poder na correlação horizontal com outras formas de poder e, neste caso, respeitadas as exceções, o poder político seria magnânimo deixando de ser o recorte diário de escândalos para abastecer tabloides e a mídia em geral.

Quando temos inimigos políticos que se rivalizam na seara do poder, ambos (ou todos) são amigos do povo e a Nação é o epicentro de suas causas, afinal, com as devidas ressalvas, o patriotismo é o ultimo refúgio dos canalhas e, na maioria das vezes, o próprio Estado é transformado na trincheira para suas guerrilhas pessoais, alimentados pela avidez popular de quem “não gosta de política”, mas que não consegue cindir o cordão umbilical com ela. Não sem razão, o modus vivendi e operandi da sociedade está absolutamente conectado a ela, embora inúmeros cidadãos gastem frágeis argumentos para refutá-la. Quem sabe uma nova reengenharia da Àgora pudesse capacitar o ser em homens de sociedade para agigantar a sua condição de cidadão, o ser político, na coexistência social.

Os barões poder conhecem bem esta força moral das massas e, evidentemente, usa a seu favor (não todos) sobre o processo da astucia, mas igualmente danoso, sob as alfombras da continua hipocrisia. Assim se tem a hipnose coletiva de uma espécie de “aurora boreal” ao ter consciência da pandemia, mas que se mantêm “encantados” com os números da eleição passada ou nos certames do porvir, numa espécie de memória permanente. E não carece de reprovação o fenômeno, apenas que a hipocrisia, sob “um sol escaldante”, é uma peneira sururuca e, portanto, nos conduz a uma força imbecil pela ausência de consciência em si e de um senso crítico transformador de sociedade (na visão orgânica) sem que nos arrastemos para as armadilhas do personalismo em que nos convêm a defesa de interesses próprios, reféns das “forças ocultas” que dominam nosso pensar e nosso agir.

Gaudêncio Amorim: Cientista Político, Poeta, escritor e compositor filiado a União Poxorense de Escritores – UPE e atual presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Poxoréu – MT

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