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A sociedade do Espetáculo

A sociedade do Espetáculo

A SOCIEDADE DO ESPETÁCULO

Prof. Gaudêncio Amorim

                        No primeiro capitulo da Obra a “Sociedade do Espetáculo” (1967) do francês  Guy Debord, (1931-1994) consta o prefácio da 2ª edição da obra “ A essência do Cristianismo”, de Luduing Feurerbach, segundo o qual “nosso tempo, sem dúvida… prefere a imagem à coisa, à cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao ser… o que é sagrado  para ele não passa de ilusão, pois a verdade está no profano. Ou seja, à medida que decresce a verdade a ilusão aumenta e o sagrado cresce a seus olhos de forma que o cúmulo da ilusão é também o cúmulo do sagrado”.

                        Nessa linha de reflexão parece que, nos dias atuais, o sagrado é o espetáculo, aliás, o espetáculo motivado pelas crises de valor, aquele que extrapola a rotina do bem para fortalecer a muralha da mal, pronunciado como digno das melhores reportagens, de apitmentados boatos e dos mais execráveis dos fatos na mais sensacional criação de todos os tempos.

Não pode ser vencedor do BBB (da rede Globo) o participante ético e politicamente correto, mas o que dá espetáculo, provoca escândalos, que conspira, que melhor representa em sucessivos simulacros de aparência. Não adianta mais torcer pelo “bonzinho”, pelo mocinho, símbolo de valores desejáveis, sabendo que a vilania tem se viralizado, como se fosse o desejo da maioria. Aliás, esta tem sido a conclusão dada por muitos diretores de filmes e novelas, consolidando o sucesso dos vilões em seus desvios de condutas, ao se afastar de uma ficção permeada pela ética com condão de extremados valores individuais e sociais, projetando nas retinas da sociedade os pecados capitais que a própria os consideram execráveis, mas que, de tanto assisti-los, às vezes, termina por legitimá-los.

                        Por outro lado, a corrupção social, através do “jeitinho” e do “levar vantagem em tudo” tem se revelado em nossa cultura, a patamares assustadores e a velocidade surpreendente. Parece que a conquista das liberdades individuais se configuram em armas letais para prospectar nossas individualidades nas liberdades alheias, em nome dos nossos próprios vícios e de nossas paixões mundanas. Essa realidade é temerária, em função de uma regressão para liberdades controladas, como aconteceu nos estados absolutistas.

                        O espetáculo não é conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas mediatizadas por imagens no fenômeno da aparência e do simulacro de realidades e, ao mesmo tempo, aceitos como efetiva realidade projetada sobre o totem da verdade.

A política brasileira, nos últimos tempos, consolidou a corrupção como a verdade indubitável do desejo dos seus operadores. A política, como “um negócio da China”, deixou de ser uma provocação dos críticos de plantão, mas uma forma de levar vantagem individuais e de enriquecimentos ilícitos, subsistindo do patrimônio dos brasileiros, como aconteceu com a Petrobrás ou a subserviência criminosa de empresários da Odebrechet, da JBS, da JIF, entre outras, através do fenômeno do propinato que movimentou desvios bilionários, cujos crimes estão sendo “perdoados” com a utilização dos instrumentos da delação premiada e dos acordos de leniências. Parece que a profecia do Pe. Antônio Vieira (1608 —1697) no seu “Sermão do Bom Ladrão” (1655) – “O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza” – tem se consolidado como a verdade de um tempo, porque os espetáculos já não acontecem isolados, mas em profusão e conectados em rede de sucessivos escândalos.  Até parece que a política se cartelizou ou se aproximou da pratica de mafiosos ao admitir a utilização de pessoas para fins escusos e eliminá-las, antes de uma eventual delação, como teria afirmado o senador Aécio Neves nas gravações da justiça. Parece também, que ao invés de espantar os gatunos, temos cuidado de, criteriosamente, eleger os lobos para cuidar dos galinheiros, por assim aceita-los em peles de cordeiros.

                        O espetáculo apresenta-se como algo grandioso, positivo, indiscutível e inacessível. Sua única mensagem é “o que aparece é bom, o que é bom aparece”. A atitude que ele exige é por princípio aquela aceitação passiva que na verdade, ele já obteve na medida em que aparece sem réplica, pelo seu monopólio da aparência. E quando os movimentos sociais ganham as ruas, são refreados pela força bruta, sob a alegação de vândalos e contraventores da ordem, não que estes não existam, mas a aparência de existi-los é tratada com a necessidade de repressão a todos, indistintamente.

                        Assim, o mundo real se converte em simples imagens, estas simples imagens tornam-se seres reais e motivações eficientes típicas de um comportamento hipnótico e acrítico. O que combate um escândalo não são mais as medidas preventivas ou corretivas, mas um novo escândalo, algo similar a prática do crime organizado que, pra roubar um banco, saqueia o comercio adjacente, queima pneus, carros, ônibus, enquanto os caixas são explodidos por poderosos dinamites e saqueados seus valores.

                        Não existe mais esperança no modelo dos espetáculos. Ele não convence mais ninguém.

                        É provável que ele subsista pelo aparato da força de leis convenientes ao poder de plantão, mas o é totalmente ilegítimo ao sentimento de nação. O combate não é mais aos ratos dos porões, mas aos timoneiros que dirigem os navios.

                        A esperança continua no fato de sua literal corrosão desse regime e dessa cultura até não se sustentar mais. A esperança continua na luta continua e continuada.

 

Gaudêncio Amorim. Poeta, Escritor, Cientista Política, membro da União Poxorense de Escritores e Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Poxoréu – MT

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